Com_traste

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domingo, 29 de março de 2009

DIVAGAÇÕES SOBRE NADA


Se trago as mãos vazias porque me pedem tudo?

Acaso não saberão ver o quanto nada é mesmo coisa nenhuma?

Mas insistem Pedem tudo uma e outra vez.

Olho ainda para elas… não vá eu já nem sentir o peso de tudo

Não vão elas ter algo que vos pertença e eu não sinta

Olho-as mas vejo apenas coisa nenhuma

Cheias de um vazio imenso São duas mãos de nada

E mesmo assim, como um louco que não sabe o porquê das coisas

Num gesto natural de como quem sêmea o trigo em campos ressequidos,

Estendo as mãos e dou tudo o que trago nelas

Um vazio imenso

Um enorme nada

Depois sinto-me mais leve, jogara fora o peso que trazia

O vazio agora é vosso

Fartem-se

Lambuzem-se de gulosa ignorância

Encham-se de tamanha ambição

A ganância que nos olhos vos brilha

Agora satisfeita, incha-vos as bocas

Os estômagos dilatam

Engordam a olhos vistos os egos

Reflectidos nos sorrisos incontidos de vitória

Um ou outro lutam na disputa de um nada maior

E eu simplesmente olho as mãos

Que vos satisfizeram a mesquinha gula do nada

Vejo-as agora cheias

Repletas de pesada culpa

Não me resta nada mais que as mãos

As mesmas mãos que voltarei a encher de nada

Para que vos possa voltar a dar tudo


(Enquanto isso, disfarço a vergonha escondendo as mãos nos bolsos ... )

2 comentários:

  1. Por muito que vazias pareçam as mãos potencialmente incorporam algo, nem sempre reconhecido mas muito valioso, que é tão simplesmente a capacidade do toque... Um afago de umas mãos vazias de tudo mais, ou cheias de nada, em certos momentos, vale TUDO!

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