Com_traste

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Espera ainda calçado...


Esperava

Já há algum tempo que era assim a espera…
Serena e simultaneamente inquieta.
Só o pensamento e o coração sabiam o seu segredo
O rosto e as mãos ilibavam-no da culpa.
Poderia haver um vendaval que as folhas do jornal, que diariamente folheava, nem mexiam.
Apertava a mão, aos que com ele cruzavam, com a firmeza dos homens calmos e seguros.
O espelho que o enfrentava todas as manhãs não poderia culpa-lo de nada…
Ele nem pestanejava ao desfazer a barba, nem mesmo quando acidentalmente se feria..
A mão segura, por vezes distraia-se com o pensamento inquieto,
O espelho ria
Mas ele deixava calmamente sangrar a ferida e controlava a dor.
Franzindo a testa, deixando o sobrolho momentaneamente recordar outros tempos…quando ainda se mostrava inteiro.
O dia corria com a normalidade de sempre
De fato e gravata, sapatos pretos de cordão bem apertado, seguia como se o tempo fosse todo dele…o mundo fosse dele…
A rua barulhenta e suja não o assustava, caminhava de olhos postos no horizonte limpando os sapatos de cada vez que um grão de pó os sujava.
“Ninguém caminha como tu”
“Parece que danças…”
“gosto tanto dos teus sapatos”
Parecia ainda ouvir a voz dela..
Era assim desde aquele dia em que o amor o deixou
Ela dissera:
“Eu volto!”
E ele deixou-se na espera ficar calçado.
Parece que não envelheceu, nem sabe ao certo há quanto tempo foi.
À noite, quando se deita apenas porque tem que descansar o corpo, o pensamento enrola-se em cada batida do coração
O coração aperta-se em cada pensamento dela.
A certeza da sua existência transformaram-no ..agora é sempre assim…um homem com um belo par de sapatos nos pés.
Na cadeira ao lado, o fato e gravata para o dia seguinte.
Tudo no lugar certo
Os sapatos nos pés…nunca se sabe quando ela irá chegar…
Dorme calçado para não perder tempo…e poder dançar novamente como antes..assim que ela chegue e o olhe.
Ele espera voltarem a ser…
Quatro pés e dois sapatos pretos.
Era nos seus pés que ela se calçava para dançar…terminando sempre num beijo

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