Com_traste

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

nº 554


Havia uma janela junto à cama
Tinha a certeza de já ter espreitado por ela muitas vezes
Era de madeira, pintada de branco
De vidros cristalinos quase inexistentes ao olhar
De cortinas soltas, brancas com rosas amarelas
Com uma fita verde a enlaçar as pontas
Havia uma janela junto à cama
Tinha a certeza!!
Lembrava-se ainda dos dias da chuva que salpicava a vidraça
Em que desenhava nuvens e cavalos voadores
Quando aproximava a sua respiração quente
transformando a janela em ardósia de sonhos
E quando o vento uivava fazendo bater a fechadura
Frágil e insegura
A um ritmo assustador
Lembrava-se de ter desejado um vendaval em cada batida do coração
Para poder lançar-se em voo livre com as cortinas como asas
Havia uma janela junto a cama,
Tinha a certeza!!
Recordava o ultimo verão
Em que o calor dilatava os poros
E a madeira ressequida fazia estalar a tinta
Mostrando a madeira bruta de que era feita
Com marcas de pregos já despregados
Com frestas a deixar passar a luz
E de como se mantinha fechada para que não entrasse o calor abrasador
Era uma janela pequena
Mas existia ali junto à cama desde sempre
Tinha a certeza!!
Do lado de fora a paisagem mudava como nos filmes…
Ora deserto
Ora oásis
Ora um corrupio de gente a andar sem direcção aparente
Ora um largo de aldeia com a igreja no meio, a badalar horas passadas.
Tinha dias em que via o rosto de uma mulher a espreitar pela vidraça…acenava e partia sempre…trazia um vestido branco com rosas amarelas e uma fita verde a enlaçar os cabelos negros.
Era o nº554 e o único com permissão para ter em seu poder um lápis de carvão e sonhos…cediam sempre um ultimo desejo…

1 comentário:

  1. Muito bom este tambem , so não percebi o porque deste numero em particular.Abraço

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