Com_traste

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domingo, 27 de junho de 2010

MORD..az


E de repente pousou a enxada.
Encostou o cabo ao tronco do chaparro e ficou-se ali a olhar as coisas como se fosse a primeira vez.
Não entendia o que fazia ali ao sol, cavando a terra ressequida, não fazia sentido deitar a semente à terra, cuidar da planta ainda frágil, ajudar a crescer a árvore, colher o fruto prometido e por fim….deliciar-se na dentada.
Depois voltar a deitar a semente à terra e, de forma estúpida, repetir o ritual.
E se mudasse de vida? Pensou enquanto limpava o suor do rosto e de olhos franzidos, olha o sol que se erguia com altivez.
Nada lhe fazia sentido agora.
Para que se erguia o sol se era mais que sabido que terminaria a pôr-se?
E o rio?
Corria tantas vezes o mesmo leito!
Ao longe ouvia-se o ladrar da Eva, corria para junto de si e, como se adivinhasse algo, lambeu-lhe as mãos e deitou-se aos seus pés ficando a olha-lo com aqueles olhos de gente.
Oh raios!! Pensou.
Sentou-se junto a ela e ficaram ali, a ver as formigas que seguiam num carreiro…sempre tão certas, tão apressadas em ir em frente…como se soubessem todo o sentido da vida.
Anoiteceu sem trazer grande novidade…e na manhã seguinte, logo pela fresca, que é cedo que começa o dia, o homem cavou a terra, regou as árvores e voltou a por fim ao fruto…prometido…numa dentada única…como a primeira, dada ainda no paraíso da ignorância .

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