Com_traste

Com_traste

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ora BOTAS!



Agora calo-me
Já não me apetecem as palavras
Fechada no espaço de quatro paredes negras
Alem do vazio, uma única cadeira espera alguém
E eu sento-me
Não sei onde colocar as mãos…junto os joelhos e abraço-os
Está-se bem assim
Comigo e a minha ausência
Não precisamos de apresentações
Nenhuma das duas espera nada
Só estamos…
Recuso-me a responder às minhas perguntas
A ausência de mim sorri
Chama-me teimosa
Continuo sentada abraçando as pernas
Cobre-me um vestido preto muito curto
Descalça e sem nada mais a cobrir o corpo
Não sinto frio
A ausência de mim está vestida de branco
Acho que gosta de cores claras
Somos muito diferentes…sempre o fomos, penso.
Nos pés traz umas botas pretas que lhe vestem as pernas também
É bonita
Olho-a e desejo-a
Nunca tinha sentido algo assim e coro
É ela que dá o primeiro passo na minha direcção
Acaricia-me a nuca
Fecho os olhos..inclino a cabeça
Volta a chamar-me teimosa…tento mas já não consigo ripostar
Sinto a ausência entrar em mim
Com a língua em voltas soltas pela minha boca
As mãos continuam a afagar-me os cabelos e sinto-me tonta
Despenteada, ofegante, suando …
Sinto que me puxa para ela, deixo-me ir sem abrir os olhos
Juntamo-nos
Sensação única a junção de corpos iguais
Diferem na cor …apenas
E obrigando-me a abrir as pernas, sinto o couro frio das botas altas na minha pele
Arrepio-me com o deslizar no seu joelho nas minhas coxas
Cheira bem..junto o nariz ao seu cabelo que agora me cobre o peito
Abraçamo-nos e em silencio deixo-a entrar em mim
Quedamos assim largos minutos..desperto como que anestesiada
Abrem a porta e alguém entra
Não me mexo
Seguram-me o pulso e oiço uma voz em eco:
Nada, não se sente nada.
Alguém do outro lado responde:
Está assim sentada desde ontem…nua e de botas calçadas.
Loucos!
Dizendo isto…saíram.

Sem comentários:

Enviar um comentário