Com_traste

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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Homicídio social




Suicídios diários acontecem na rua da desgraça
Algures entre as portas fechadas e janelas entreabertas
Matam-se vidas em silencio
Um cortar de pulsos ao som de Beethoven
Uma corda pendurada em jeito de baloiço
Uma banheira cheia com espuma de alfazema
Ou apenas um sono proporcionado por comprimidos sorridentes
Os vizinhos mais atentos escutam algo
Mas mandam logo calar o cão
Sabem as regras da boa convivência
E se tiver que ser descoberto o corpo inerte
Que seja depois de empestar a rua de mau cheiro
E não se consiga mais virar o rosto
Nem haja mãos capazes de calar as bocas dos petizes
E ai será a hora
Em que se transportem os cadáveres
E já sem memória todos digam que nada viram ou escutaram nessa dia
“Até que era boa pessoa..bem falante..não se metia na vida de ninguém”
Diriam aliviados
E em outro dia qualquer, quando mais uma alma cansada e solitária se matar
Talvez já nem o cão se canse a ladrar
E nem a rua se incomode com o mau cheiro

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