Com_traste

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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Bomba relógio


Antes, escrevia na pele com saliva
Lia nas linhas do corpo
Soletrava todas as silabas das palavras
O tempo era um todo
Contado ao segundo sem se ouvir passar
E eu escrevi na pele com o suor
De quem teima em se perder no caminho
De quem recusa ouvir o tic tac ameaçador
Antes, guardava os meus segredos em caixas vazias
Para que fizessem eco no meu pensamento
E sorria..a cada lembrança
Maliciosamente..sorria
Antes, o livro era eu
Cheia do que não se diz por medo
Cheia do que se escrevem em linhas rectas
Cheia de entrelinhas, invisíveis
E lia-me pelas madrugadas dentro
Folheando cada páginas com dedos húmidos
Parando nas virgulas o tempo necessário do respirar
Pontuando as frases com beijos
Finalizando capítulos com orgasmos
Gemendo a cada página em branco
Antes, nada me parecia tão triste
Como a ausência do texto que sabia esconder no meu corpo
E agora?
Abro o livro ao contrário e…
Começo a ler-me na palavra fim…
Terminando na primeira página sem pontuar
Agora
Amarroto na palma da mão todas as estórias que ainda sei possuir
Mas não tenho mais madrugadas para as contar…
O tempo é um todo
Contado ao segundo
Que se ouve passar…

1 comentário:

  1. "Amarroto na palma da mão todas as estórias que ainda sei possuir"
    Aqui mora a bomba de relógio. Quando explodir que seja com a mestria das palavras que tão bem sabes organizar. 1Bj

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