Com_traste

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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Quando morre uma andorinha...



Quando se morre, só um pouquinho
Temos pássaros nos olhos em bailados primaveris
E o Outono insiste em mandar embora as andorinhas do nosso coração
Cá dentro, o corpo tem nas veias a vida autónoma
Que, sem saber quem dá à manivela ou à corda
Faz bombear toda a vida até ao coração
Mas somos mortos a prazo
Não! Não é como todos, sei o que pensais
Este prazo não é uma incógnita, como a de todos os comuns mortais
Não sabereis o que é ver nascer o dia dentro de nós a cada madrugada
Mas ser noite lá fora?
E quando o corpo insiste em ser criança, querendo saltar à corda
E simplesmente coras só de pensar na sua ousadia?
É assim a vida a prazo
É assim a morte em meias doses
Bebemo-nos em copos sem pé
Quando nos sabemos vinho de reserva
Não falo de seres superiores
Sei-me igual
Sei-me por vezes menor que os menores
A questão está na minha consciência
Eu sei que não menosprezo os outros
Eu sei que não me coloco em pedestais
Mas..os outros não me vêem com os meus olhos
E não consigo falar outra língua que não a de indígena
Pinto o rosto com a seiva das minhas angustias
Desfaço na palma da mão insectos venenosos
E faço a guerra, do tudo ou nada no momento
Caindo depois em terra…exausta
Triste e consciente do ridícula que sou
Nem sempre a razão vence dentro de mim
Nem sempre dentro de mim há justiça
Mas eu sei que os pesos que coloco na balança são os iguais
Porque não nego o amor aos outros
Mesmo que meus olhos naquela hora sejam balas
Da mesma forma que os odeio num segundo
Amo-os uma vida inteira
Mas eu
Eu não consigo deixar de querer ter pássaros nos olhos
A brincar às primaveras
E ninhos de andorinhas no coração, para que nasçam todas as possíveis vidas que sei possuir
E nos dias de Inverno…morro um pouquinho
Enquanto todos os pássaros aguardam a próxima estação em mim…

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