Com_traste

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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Metamorfose


Depois do dilúvio das palavras
Fez-se barca
Casulo sem fios de seda
Feito de baba enraivecida
De bílis
Azeda
Onde se deitou adormecida
Sem contos de fadas para contar
Pele seca escamosa
Criatura monstruosa
Desigual
Iria dormir cem anos
Ou talvez nem acordar
Fazer-se gente
Calar para ser decente
Sorrir
Rir
Encantar
Não teve o dom das palavras doces
Nem a beleza sedutora dos gestos bem cuidados
Não tinha rosas no cabelo
Nem vestido de laços delicados
Atravessava a rua sem olhar
Jogava ao pião
Chamavam-lhe furacão
Agia sem muito pensar
Depois afogava-se nas palavras
Sentires na flor da pele em turbilhão
E chorava e ria na mesma hora
Caia
Morria de exaustão
Desta vez babou a raiva
Nesses fios de bílis endurecidos
Teceu com fúria
Envolta nas sombras de quem a forma
Seria a sua ultima condenação
Prisão perpetua
Aquela que não entendem
E das palavras que julgava compreensão
Fez o escudo para sua protecção
Consciente do seu fel
Mas não sendo cruel
Esperaria a hora da transformação
Até que morresse depois num bater de asas…momentâneo
E sentir a leveza da sua própria ausência
Livre de si sendo apenas ela
Não o outro que se transforma em nós
Por defeito da mutação que nunca soube completar
Como bicho estranho
Que finda, entrando no seu próprio ventre
Para se auto fecundar
Talvez um dia parir-se noutra vida
E não precisar de morrer para ressuscitar










1 comentário:

  1. Li e reli e encontro sempre algo diferente, que me tinha escapado! Uma certeza... voltarei para reler!!!

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