Com_traste

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segunda-feira, 12 de março de 2012

Voz manuscrita


Hoje escrevo noite fora
Eu podia falar de mim mas seria inútil
Não sei falar de mim sem que me tremam as penas
As mãos
O corpo todo se confunde
Parecendo ficar com medo do que eu diga
Por vos saber incapazes de entender as palavras ditas sem conexão
E eu escrevo noite fora
Com a mesma voz que falaria
Mas parece que por magia
Escrever sem nexo faz sentido
E assim ninguém me vê tremer
E o meu corpo não se amedronta
Por fingir ser um outro
Ser corpo de palavra
Assente em papel
Encostado à margem da personagem que pensam que sou
Ou do autor anónimo que assina no fim
A quantidade de juízes
Proporcional à quantidade de olhos que me olham quando falo
No dobro feito pelas contas dos meus dedos trémulos
Agora desaparecem
E até quando são os meus próprios olhos juízes
O meu corpo finge-se morto
No sorriso eterno
Encolhendo os ombros
Como se eu já não fosse eu
E o meu corpo não identificado
Nas palavras que como lápide
Gelam aqui
Já não se importa com o que eu diga
Ou com o que vocês pensam

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