Com_traste

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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

À lá minuta




Quis-te à pressa
E a preto e branco
O tempo que te criou fugidio
Nasceste de sete meses
Num colo que não te embalou para te amamentar
Do pão, a côdea era o brinquedo sempre à mão
Matando o sonho e a fome do menino
Sorriste
Porque nesse tempo nem havia passarinhos
E da pólvora viste mais que a luz ao longe
Brincaste à guerra matando outros meninos
E do sangue escreveste a carta à amada
Estou bem...dizias quase em forma de pedido
Todos os dias penso nos teus olhos negros...e ao escreveres, negra era lágrima em teu rosto
Diz à minha mãe que a amo...e aqui a letra era firme e desenhada com todas as formas primárias
Selavas a carta com a saudade a salivar
E aguardavas as noites para poderes entregar em mãos a missiva
Os dias eram longos
E breves os abraços camaradas
Pedias em surdina aos teus olhos que não chorassem
Eras homem
E eles obedeciam num sorriso liquido que só tu entendias
Sentias-te forte cada vez que respiravas
Como só por isso a bandeira da pátria ondulasse
Davam-te louvores
Mas tu no peito só prendias as dores
E da guerra a hora que terminasse
Um dia, já sem horas reconhecíveis
Deixaram-te partir
E a alegria foi um flash
E de olhos cerrados partistes
A preto e branco
Chegaste
À lá minuta...
Porque tardaste liberdade?
Disseste-lhe olhando-a sem vistas
E ela pedia que lhe lessem a ultima carta
Para esquecer que fora a primeira...

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