Com_traste

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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

ContAbilIdade


A arte de contar o tempo em anos
Entrelaçados nos nós dos dedos
Em tranças de menina
Nos tics tacs de máquinas
Outrora o 1º relógio de pulso
Logo mais a calculadora
Que soma amores
E dores
Que subtrai tempo
E vontades
Para no fim ser a que mantém a vida por um fio
Um on por obrigação
Um tempo esticado ao segundo
Um off por amor de Deus
Caso haja amor profundo
Mas arte
De contar tempo antes de partir
Está na habilidade do conto
Desde a princesa que nasceu de beleza fadada
Ao príncipe que se desencanta
Está na forma como se dança
Anda
Sonha e se adormece
E se brinca ao esconde esconde
Contando a fazer batota
Ou se espreita por uma fresta
Pensando que ninguém vê
É rir e fazer uma festa
Da queda
Da dor de burro
É apanhar borboletas
Sem rede que aprisione
E subir ao mais alto pinho
Porque nela subiu o gato
Ter medo de gafanhotos
Arrepiar com lagartixas
Brincar ao pica pica
Já a fazer meias de renda
Do xaile fazer a tenda
Para esconder o bicho homem
E no altar esconder a mão
Como ao jogar à sardinha
Ao parir querer ter menina
Porque sendo a primeira convém
Crescer sem saber porquê
E envelhecer com jeitinho
Sorrir e fazer beicinho
Que o feitio não se muda
Olhar ao longe e querer ir
Sabendo que nunca irá
E sonhar até bem tarde
Noite fora
Dia dentro
Ser maior que o pensamento
Que a torna já velhinha
E ela sempre menina
De laço e fitas de seda
Quem vê
Conta-lhe as rugas
Quem a sente
Conta-lhe histórias
E ela já é saudade
Ela e ele ainda petiz
E pelos dedos conta feliz
Conta certa por um triz
Conta hábil a idade


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