Com_traste

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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Da mudança




Pintava os lábios com as mãos tremulas
Queria tanto ficar bonita
E se não fosse aquela cor que condizia com a roupa?
Ou aquele brilho fosse exagerado?
Borrava os lábios com as costas da mão
Num gesto brusco de quem decide não arriscar
E este bem que continuavam a fazer movimentos sensuais
Mas único que sorria era o espelho
Divertido com o ridiculo da situação
Os olhos
Negros e inquietos
Tiveram vezes sem conto uma sombra cinza
Mas apagara tantas vezes quantas pintara
E o cinza já negro confundia-se no olhar
Que lacrimejava aproveitando o alibi
O sinal
Que no rosto crescera com ela
Fora disfarçado cuidadosamente
Mas ao olhar-se não reconhecia o seu reflexo
E recusava-se a sair com estranhos
Em segundos a pinta aparecia no mesmo sitio
Sem ser tão grande como pensara
O cabelo
De um negro quase irreal
Ora preso à nuca contendo todos os pensamentos de liberdade
Ora solto, livre..contrariando todos os seus desejos de prisão
Sempre fora um cabelo meio rebelde
A roupa
Fora sempre neutra
Não evidenciando grande personalidade
Quiça por receio de se impor e causar discussão
Deixava-se misturar sem grande alarido de cores
E as velhas jeans eram as únicas que pareciam actuais todos os dias
E de nada adiantava o vestido de chita sonhar em ser 10 cm menor
Habituara-se aos joelhos e já nem tentava levantar com o vento
Há coisas com que não vale a pena teimar
A roupa mais intima
Ruborizava cada vez que secava no estendal
Chegando a desejar que chovesse em pleno verão
Ela
Acabava sempre pro sair à rua de lábios nus
Olhos negros
Sinal no rosto
E no corpo...toda o conflito interior
Mas caminhava segura...
Talvez porque os sapatos já conhecia aquele caminho...e os seus pés, há muito que deixaram de sonhar

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