Com_traste

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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O tumulto da palavra indecifrável



Falavam e diziam coisas
Escutavam atentas ignorâncias
Boquiabertas curiosidades
Ouviam e ouviam e ouviam
Os sons
Eram pedaços de ovnis a cair dos céus
Uns protegiam-se contra o possível impacto
Usando expressões de concordância
Ar de douto conhecimento
Anos e anos de experiência na escuridão da sabedoria
Davam cobertura a gestos nervosos
Possíveis delatores da verdade
Outros, menos experientes
Arrastavam mãos impacientes pelo rosto
Cansavam objectos escrevinhadores
Fazendo listas e listas de frases aparentemente inteligentes
Por serem escritas
Um dado já socialmente aceite
O facto de dominar a escrita conferia elevado QI em certos meios
Uma plateia de cadeiras cansadas de corpos cinzentos
Gemia em voz baixa de quando em vez
Impacientes para a hora do recreio
E a palestra continuava em tom exageradamente seguro
Uma ou outra palavra mais vagarosa parava no ar
Centrando em si todos os olhos
Mas logo logo se desfazia em conceito repartido por diferentes abstracções presentes
Seguia-se um desenrolar de conclusões
Provocadoras ideias
Ousadas e castradoras presunções
E no fim
Ao chegar à parte das despedidas cordeais
Escutam-se suspiros
Ais
Aliviadas as paredes sufocadas
De ouvir palavras e palavrões
Sem boca para poder mandar calar
Aqueles que não têm ouvidos










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