Com_traste

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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Preto e cal

Ela contava que de noite os ratos lhe roíam as orelhas
E de dia tentava caça-los
Vestia de preto
Daquele preto limpo
E nunca tinha comido bananas
Não conheceu novelas
Nem sabia ler
Vivia num arco de pedras brancas caíadas
Uma gruta onde se viajava no tempo
Quer na gota de agua fresca do cântaro
Quer nos seus olhos fundos
Tia de uma avó já velhinha
Invertia a ordem das coisas desde cedo
Eras pele e osso
Franzina
Das velhas mais velhinhas que conheço
Dos pratos de loiça ratinha fez sua fortuna
Guardou na cómoda retalhos que foram vestes
Imagens que foram gente
Um filho que foi defunto
Do marido guardava mágoas sem choro
Sempre a conheci sozinha
A tia
Antónia
Minha



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