Com_traste

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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Esquizofrénico




Deitava na madrugada do ventre
Aninhada num colo imaginário
Era totalmente inconsciente
Um choro em ladainha balançada
Enrolava um umbilical cordão no dedo mindinho
Fazendo e desfazendo a realidade
Sorria em desalinho
Num código maternalmente decifrável
Cresceu sempre ao pé coxinho
Gente ausente
Palpável
Via coisas inexistentes
Morria de medo de tudo
Vivia em cima de nada
Coração em batente
Num toc toc insistente
Até que a porta se abrisse num "quem é?" normalizado
E sem necessidade de apresentações fundiam-se etéreas mãos
Alucinações constantes faziam-lhe companhia
Ciumes como facas cortantes
Dores de parto num acto de ficar para sempre
E beijos marcados em pele de galinha
Cartas nunca lidas antes
Palavras escutadas em surdina
Relia a palma da mão nua
Numa linha imaginária desfiava contos sem fim
Chamavam-lhe amor e vivia aprisionado numa camisa branca
Sem gravata para dar o nó
Abraçava-se
Morrendo e vivendo sempre assim
Louco
Apenas louco
Parecia tão feliz!









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