Com_traste

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Eternos mortais

Prende os pulsos dos impulsos
Amarra os pés da cama ao chão
Entra e fica mais tempo que a demora
E quando saíres de mim
Sentires que é em mim que teu corpo mora
Agarro teu peito já desfeito
Enlaço a gravata em nós
Faço teu tronco flutuar no leito
E nele me deito e deleito
Das margens das duvidas um adeus chora
Entra na vaga
Sai de ideia naufragada
E de costas nada contra mim
Que te aguardo novamente no cais
Consciente de um adeus provável
E chama-me chama
Aquece-te
Seca-te
Enrola-te em mim em fumo
Eternizemos o acto que de peça a peça criámos
Unos
Jogamos certeiros as cartas
Escritas ainda quando o tempo era inicio
E nos sentíamos morrer de amor em poesia corpórea
Na mão o tacto
Na boca o beijo
No peito o desejo
Nos olhos os teus
Nos teus os meus
Peles cardadas pelas nossas unhas
Gota a gota em rega de semente deitada
Sôfregos gemidos
Lânguidos sorrisos
Luxuria inventada
E eu saber-te agora o que já me eras
E tu sentires-me o gosto no fim da espera
Certos
Da certeza que nos fazemos felizes
Lambendo a palavra amor em fim de guerra
Nas bocas em cálice fazendo brinde
Escrever teu nome no meu numa árvore
Como prova da eternidade depois do momento temido
Fora eu folha de hera
E tu a raiz fora da terra
Em retorcidas voltas
Do destino
E antes que na tua mão eu escreva o meu
E tu na tua leias a minha
Deita-te comigo na mesma praia e à tardinha
Deixemos que seja a maré
Com a sorte que lhe cabe
E o azar com que a vida se desculpa
A fazer de nós uma jangada
Que à deriva segue o rumo do amor
E nós
Disfarçadamente
Unimos as mãos em gestos coordenados
Como remos por nós comandados
Na rota traçada pelo desnorte do bater do coração
Quando receia...o fim


2 comentários:

  1. Sublime!
    Um autêntico Farol no epicentro de uma noite inesperadamente tumultuosa.


    Beijo

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    Respostas
    1. Obrigada.
      Que o dia seja realmente iluminado e que a calmaria seja na justa medida...

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