Com_traste

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quinta-feira, 28 de março de 2013

Fim de linha



Depois dá-se o nó
Fica-se apeado ou simplesmente, apanha-se o caminho de volta atrás...
Na 1ª opção, cuidado com os pontos dados à mão...a perfeição está em não se fazer notar a diferença
Na 2ª, seja positivo e quem sabe, mesmo apeado encontre prazer na caminhada
Por ultimo, se opta por voltar atrás...escolha o banco em que fica de costa para o destino...a paisagem é a mesma, mas de certeza o seu ponto de vista não.

Umbilical...



Ao virar da esquina
Atrás daquela montanha
Quando menos se espera
Mais cedo ou mais tarde
Um dia...
Damos de caras com o inevitável
Seja lá o que isso for
Acontece a todos!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Vaga...ideia

Por vezes tenho uma vaga ideia...a sorte é que sei nadar de costas e safo-me..
Pior que morrer afogado, é morrer afogado nas suas ideias vagas, pensando serem verdades absolutas...e recusar bóias ou jangadas, por puro egocentrismos.
A minha alienação é um estilo mariposa...sei,não é fácil, mas tentem...irão gostar de voar sobre as vagas ...

Ideias Vagas II

Há no ar um cheiro a primavera, não tarda a chegar Abril...e pelo ar andorinhas, qual flor lançada com esperança.
Há pássaros que nunca nos deviam deixar!
Saibamos nós fazer-lhes ninho seguro, para que nunca mais Abril tenha que surgir anunciado. E a primavera se renove com a naturalidade dos dias que envelhecem livres...qual papoila em campo que por dar pão será ceifado...

Ideias vagas I

Chove em exagero, e eu espero que as raízes se mantenham presas à terra. A árvore que deu frutos vacila, os anos trazem e levam a robustez ...nada é nosso eternamente, apenas o tempo é certo na sua passagem.
Chove...talvez a finalidade seja essa, que nasçam heras nos nossos pés...presos ao que nos deu vida, livres para chegar ao céu...enquanto isso, vivemos, e é bom!

sexta-feira, 15 de março de 2013

Similar



É assim como o amor
Tem o mesmo cheiro
O mesmo gosto
Cor
Textura
Ou como a paixão
Tem a mesma loucura
A mesma euforia
A mesma arritmia
É algo assim parecido aos sonhos
Fofos
Leves
Voadores
Coloridos
Sabes, os teus beijos são metáforas
E os lábios são espelhos dos sentidos



voyeur



O espaço vazio da madrugada
É apenas o eco confuso
Dos dias e das noites
Que em amor platónico vivem
E eu
Escuto embevecida
Sem entender como é possível tanta ternura
Num vazio

Em voo



Sabes porque todos os poemas têm pássaros?
Porque te sabem longe
E todas as minhas palavras te desejam
Assim, nesse voo que os pássaros nunca castram
Irão chegar ao destino inteiros
Em sons
Em imagens
Em sentimentos
Todos os poemas
Que por meu castigo e meu tormento
Escrevo
E presos ao espaço confinado desta pena
Presos ao T4 deste meu coração
Voam livres os pássaros
Como livre voa o que sinto

Despensamento X

Eram os mandamentos
Tantos quantos os despensamentos
Mas embora iguais em numero
Divergiam em género
Os primeiros
Disfarçavam a sua homossexualidade
Exigindo aos outros virtudes desumanas
Em troca dava-lhes o céu
Os segundos
Eram assumidamente um inferno
Não pediam compreensão
Não queriam entendimento
Denudavam-se em publico
Sem pudor
Eram a pura luxuria, acaso tivessem a coragem de invejar uns aos outros
Algo mais que as mulheres
E ao acreditar nas suas palavras sem escrituras
Seria ao décimo
Que morreriam todos!




Despensamentos IX

A simplicidade era uma bonita moça do campo
Faces rosadas
Sardas no nariz
Cabelo ruivo
Vestido de chita às flores
Sapatos sem saltos
Pernas magrinhas
Nos olhos
Um olhar límpido
Na boca
Palavras cristalinas
Sua mãe
Maria Confusa
Falava dela como se fosse enjeitada
Repetia vezes sem conta o parto difícil que tivera
Foi a ferros, vinha marcada (dizia fingindo as dores da altura, na sua face sem graça nem formosura)
Seu pai
Jaquim sentido
Sorria-lhe logo pela manhã
E beija-lhe o rosto com os olhos afogados
Gosto tanto de ti, moça
Repetia tantas vezes quantas as sentia
E ela
Sabendo-se singela
Filha de pai e mãe distintos
Aceita o facto dos efeitos dos ferros e do tormento
Repetindo à mãe uma e outra vez, gosto tanto de ti!
E ao pai...aprendeu a nadar só para lhe ver os olhos sorrindo.









VIII

Não costumava ficar sem palavras
Mas uma vez
Depois do fim
Nada mais disse
Foi no dia que isso aconteceu
Que a encadernaram
E de uma forma um pouco violenta
Cobriram-na de elogios
Flores
E enterraram-na, junto de muitas outras...
Aguardando o dia em que a saudade fosse tanta...mas tanta
Que obrigasse a uma reedição.


Despensamento VII

Quem és tu?
Perguntava-se o filosofo constantemente
Nunca obteve uma resposta satisfatória
É por isso que os dinossauros se extinguiram
Mas ainda hoje existem filósofos

Despensamento VI

De tempos em tempos era alegria
Fora desses tempos
Era tristeza
um dia baralhou os tempos todos
E rio quando era tempo de tristeza
Chorou quando era tempo de alegria
Confuso
O tempo
Disfarçou inventando as lágrimas de felicidade
E o sorriso amarelo
Agora
De tempos em tempos chora e sorri
E fora desse tempo
É mesmo feliz


Despensamento V

Desde pequenina que não parava de crescer
Cresceu tanto que conseguiu morrer e reencarnar uma data de vezes
Só parou de crescer quando a mãe já zangada com aquela brincadeira lhe disse:
Maria Tonta, ou paras já com o raio dessa brincadeira ou deixo já de fumar aquela merda!
Upssssiiii

Despensamento IV

A sua doença crónica era hereditária
Era estéril !
Sempre vivera culpando disso os seus antepassados
Tentou vários métodos de fertilização artificial
Em vão...
Quase às portas da morte
Ao se confessar e receber a extrema unção
O padre tomou coragem e disse-lhe
Meu filho
Nunca te quiseram dizer antes, porque a tua dor e revolta nunca te iriam deixar aceitar a verdade, mas agora, que vais para junto do senhor ..tens que saber!
Foste adoptado e és a Eva
Ela...que sempre pensara ser ele
Pediu o ultimo desejo
Foi concedido pela própria mão do padre
E ao trincar a maçã
Rebentaram-lhe as águas
A sorte é que Noé não estava longe e levou um macho e uma fêmea de cada espécie animal para a barca
Hum?
E eu lá sei porque raio ainda existem padres...




Despensamento III

Quando ela fazia uma pergunta inteligente
Só escutava respostas estúpidas
Depois resolveu fazer perguntas estúpidas
E continuava a só ouvir respostas estúpidas
Deixou de perguntar
Até que um dia entendeu tudo...
O eco não sabia fazer pontuação



Despensamento II

Ela foi a noiva mais bonita que alguém vira naquela aldeia
Um lindo vestido branco
Um véu a cobrir o rosto
E nas mãos um ramo de amores perfeitos
Ainda hoje há fotos recortadas do jornal da aldeia
Por todas as campas do cemitério
Emolduradas em mármore branco
O coveiro é o único sobrevivente daquele dia
Quando lhe perguntam porque nunca casou, sorri
Encolhe os ombros e diz:
Nesta data ainda era muito novo
O jardineiro da aldeia era o meu pai
Ela, a noiva, a minha mãe
E fui eu que colhi as flores para o ramo
Sabia lá eu que com isso
Iria enfurecer o meu pai
Por aquelas serem as ultimas flores da espécie
E o padre
Por me saber filho de uma noiva não virgem
Todos os casados da aldeia
Por se sentirem ridículos
Todos os solteiros
Por terem perdido a ilusão
E depois disto
Comecei a enterrar os corpos
E como raio quer você que eu deseje morrer tão novo?

Despensamento I

Ele morreu de amor
Passado alguns meses foi descoberta a cura para tal maleita
A sorte é que como doou o corpo para a ciência
Puderam fazer sérios avanços na descoberta da vacina contra o ódio

quinta-feira, 14 de março de 2013

09-03-2013

De repente
Abre-se o peito inteiro
Como para albergar um mundo
E entram todos que do meu peito são
Que sempre cá moraram
Mas ou por obra do destino
Ou por falta de atenção
Viviam silenciados
Como que adormecidos
E um a um são sorrisos
Histórias
Sentimento
Um ou outro lamento
Memórias
Coisas boas
São vidas encruzilhadas
Como estradas em labirinto
E eu percorro uma a uma e sinto
Este sentir emocionado
De quem sente o significado do caminho
Mesmo sem ser assinalado
É um sentido orientado
Num pulsar cá dentro
Na pele que sendo deles é minha
Talvez haja um segredo que se descobre sempre tarde
Como o pote cheio de ouro num fim de um arco colorido
É assim este sentir feliz e encantado
Por de peito aberto
Peito cheio
Peito habitado
Bater em uníssono
Um coração enxertado
Sem perder a pureza da primeira gota que lhe deu vida







segunda-feira, 4 de março de 2013

Nu feminino



Não insistas
Deixa o mito
Larga doçura
Grita da alma
Sê nua
Que de nada te valerá
Ser cria
Coisa tua
Se guardas virgem e casta
A fêmea pura
A mente falsa
Com que te batizaram os Deus
Passa a mão vagarosa
Num acto obsceno e intimo
Agarra o fio
Lambe o decote
Faz do pulso fraco
O sexo forte
E dança
Dança louca criatura
Nu feminino
Exposto
É teu o corpo
Do primeiro ao ultimo acto
Toma-te vaidosa
Retira o cinto
O baraço
Faz do nó o laço
Enfeita-te de provocação
Que corem a ponta dos dedos
Por vergonha
Por malícia
Desbrava a própria perícia
Que nunca tiveras antes
Pendura-te no Pelourinho
Venda-te
Queima-te
Mata-te
E nua
Envergonha o mundo imundo
Que te castrou
Num orgasmo egoísta





Clichê



Trago uma mão cheia
Dormente
Em gestos vazios
Em lugares comuns
Dada com a frequência exagerada do adeus
A toda a gente

Tempo sem modo



O meu estado é ébrio
Consciente
Escolho a alucinação dos dias
Sorvo-te alma
Vendida
Do copo de corpo cheio que não desiste
O meu estado é ébrio
Nada triste
Troca o real pelo que para mim existe
Estado objectivamente alucinado
Pelo que sou sem pena
Depenado
O meu estado é ébrio
Assumido
Com o rotulo de pura poesia
E em tombos ando
Em covas durmo
Em palavras me deito
O meu estado é ébrio
Pendente
Num tempo
Num estado
Inconsciente







Quebranto



Já de nada importa a consciência
Abrupta
A realidade
Ele nunca irá entender as causas da sua incompreensão
O tempo era frágil
Como são frágeis todos os sonhos de menino
E talvez por isso nem deu por o tempo passar em pedaços
Quebranto
O peso que sentia nos olhos
E a sensação de tonturas constantes quando teimava em voar
Lembrava-se de em tempos idos lhe benzerem a testa ao som de ladainhas estranhas
E que sorria
De nada valeram
Continuava mau olhado pelo mundo
E agora insiste em puxar da memória
Como quem puxa carroça carregada de peso morto
Custa uma eternidade lembrar daquelas palavras em ladainha
Queria sorrir e ser ele próprio a originar esse sorriso
Uma ou outra palavra surgia do nada
Sem nexo
sem ordem
Sem efeito
Nessas alturas queria ter crença
Esta é como o sal
Faz toda a diferença
Uma pitada ou uma mão cheia
Porque é dele que se fazem as lágrimas e a sua ausência
Que raiva!
E este era o único sentimento que tinha
Mas nem lhe possibilitava o sorriso por não saber que o sentia
Mentia
Sentia também o espanto, a admiração
Pela diferença...
Porque seriam todos os outros tão estranhos?
E mesmo assim ele amava-os
Talvez por ter ainda a esperança
Não tão pesada como a memória
Que ele puxava como quem puxa um papagaio de papel ao vento
Sendo ele que sopra
Quiça com ele lhe venham à memória sons
Sons em ladainha
E ele sorri
Quebranto
Abrupta a realidade quando precisamos de inventar rezas no vento
Porque já de nada importa a consciência
Que como gotas de azeite se mistura com a água
E umas pitadas de sal...