Com_traste

Com_traste

sexta-feira, 15 de março de 2013

Despensamento II

Ela foi a noiva mais bonita que alguém vira naquela aldeia
Um lindo vestido branco
Um véu a cobrir o rosto
E nas mãos um ramo de amores perfeitos
Ainda hoje há fotos recortadas do jornal da aldeia
Por todas as campas do cemitério
Emolduradas em mármore branco
O coveiro é o único sobrevivente daquele dia
Quando lhe perguntam porque nunca casou, sorri
Encolhe os ombros e diz:
Nesta data ainda era muito novo
O jardineiro da aldeia era o meu pai
Ela, a noiva, a minha mãe
E fui eu que colhi as flores para o ramo
Sabia lá eu que com isso
Iria enfurecer o meu pai
Por aquelas serem as ultimas flores da espécie
E o padre
Por me saber filho de uma noiva não virgem
Todos os casados da aldeia
Por se sentirem ridículos
Todos os solteiros
Por terem perdido a ilusão
E depois disto
Comecei a enterrar os corpos
E como raio quer você que eu deseje morrer tão novo?

Sem comentários:

Enviar um comentário