Com_traste

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segunda-feira, 4 de março de 2013

Quebranto



Já de nada importa a consciência
Abrupta
A realidade
Ele nunca irá entender as causas da sua incompreensão
O tempo era frágil
Como são frágeis todos os sonhos de menino
E talvez por isso nem deu por o tempo passar em pedaços
Quebranto
O peso que sentia nos olhos
E a sensação de tonturas constantes quando teimava em voar
Lembrava-se de em tempos idos lhe benzerem a testa ao som de ladainhas estranhas
E que sorria
De nada valeram
Continuava mau olhado pelo mundo
E agora insiste em puxar da memória
Como quem puxa carroça carregada de peso morto
Custa uma eternidade lembrar daquelas palavras em ladainha
Queria sorrir e ser ele próprio a originar esse sorriso
Uma ou outra palavra surgia do nada
Sem nexo
sem ordem
Sem efeito
Nessas alturas queria ter crença
Esta é como o sal
Faz toda a diferença
Uma pitada ou uma mão cheia
Porque é dele que se fazem as lágrimas e a sua ausência
Que raiva!
E este era o único sentimento que tinha
Mas nem lhe possibilitava o sorriso por não saber que o sentia
Mentia
Sentia também o espanto, a admiração
Pela diferença...
Porque seriam todos os outros tão estranhos?
E mesmo assim ele amava-os
Talvez por ter ainda a esperança
Não tão pesada como a memória
Que ele puxava como quem puxa um papagaio de papel ao vento
Sendo ele que sopra
Quiça com ele lhe venham à memória sons
Sons em ladainha
E ele sorri
Quebranto
Abrupta a realidade quando precisamos de inventar rezas no vento
Porque já de nada importa a consciência
Que como gotas de azeite se mistura com a água
E umas pitadas de sal...













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